Assédio moral
ou Violência moral no trabalho não é um fenômeno novo.
Pode-se dizer que ele é tão antigo quanto o trabalho.
A novidade reside na
intensificação, gravidade, amplitude e banalização do fenômeno e na abordagem
que tenta estabelecer o nexo-causal com a organização do trabalho e tratá-lo
como não inerente ao trabalho. A reflexão e o debate sobre o tema são recentes
no Brasil, tendo ganhado força após a divulgação da pesquisa brasileira
realizada por Dra. Margarida Barreto. Tema da sua dissertação de Mestrado em
Psicologia Social foi defendida em 22 de maio de 2000 na PUC/ SP, sob o título
"Uma jornada de humilhações".
A primeira matéria sobre a
pesquisa brasileira saiu na Folha de São Paulo, no dia 25 de novembro de 2000,
na coluna de Mônica Bérgamo. Desde então o tema tem tido presença constante nos
jornais, revistas, rádio e televisão, em todo país. O assunto vem sendo
discutido amplamente pela sociedade, em particular no movimento sindical e no
âmbito do legislativo.
Em agosto do mesmo ano,
foi publicado no Brasil o livro de Marie France Hirigoyen "Harcèlement
Moral: la violence perverse au quotidien". O livro foi traduzido pela
Editora Bertrand Brasil, com o título Assédio
moral: a violência perversa no cotidiano.
Atualmente existem mais de
80 projetos de lei em diferentes municípios do país. Vários projetos já foram
aprovados e, entre eles, destacamos: São Paulo, Natal, Guarulhos, Iracemápolis,
Bauru, Jaboticabal, Cascavel, Sidrolândia, Reserva do Iguaçu, Guararema,
Campinas, entre outros. No âmbito estadual, o Rio de Janeiro, que, desde maio
de 2002, condena esta prática. Existem projetos em tramitação nos estados de
São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Paraná, Bahia, entre outros. No
âmbito federal, há propostas de alteração do Código Penal e outros
projetos de lei.
O que é humilhação?
Conceito: É um sentimento de ser
ofendido/a, menosprezado/a, rebaixado/a, inferiorizado/a, submetido/a,
vexado/a, constrangido/a e ultrajado/a pelo outro/a. É sentir-se um ninguém,
sem valor, inútil. Magoado/a, revoltado/a, perturbado/a, mortificado/a,
traído/a, envergonhado/a, indignado/a e com raiva. A humilhação causa dor,
tristeza e sofrimento.
E o que é
assédio moral no trabalho?
É a exposição dos
trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas
e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções,
sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em
que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa
duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s),
desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a
organização, forçando-o a desistir do emprego.
Caracteriza-se pela degradação
deliberada das condições de trabalho em que prevalecem atitudes e condutas
negativas dos chefes em relação a seus subordinados, constituindo uma
experiência subjetiva que acarreta prejuízos práticos e emocionais para o
trabalhador e a organização. A vítima escolhida é isolada do grupo sem
explicações, passando a ser hostilizada, ridicularizada, inferiorizada,
culpabilizada e desacreditada diante dos pares. Estes, por medo do desemprego e
a vergonha de serem também humilhados associado ao estímulo constante à
competitividade, rompem os laços afetivos com a vítima e, freqüentemente,
reproduzem e reatualizam ações e atos do agressor no ambiente de trabalho,
instaurando o 'pacto da tolerância e do silêncio' no coletivo, enquanto
a vitima vai gradativamente se desestabilizando e fragilizando, 'perdendo' sua
auto-estima.
O desabrochar do
individualismo reafirma o perfil do 'novo' trabalhador: 'autônomo, flexível',
capaz, competitivo, criativo, agressivo, qualificado e empregável. Estas
habilidades o qualificam para a demanda do mercado que procura a excelência e
saúde perfeita. Estar 'apto' significa responsabilizar os trabalhadores pela
formação/qualificação e culpabilizá-los pelo desemprego, aumento da pobreza
urbana e miséria, desfocando a realidade e impondo aos trabalhadores um
sofrimento perverso.
A humilhação repetitiva e
de longa duração interfere na vida do trabalhador e trabalhadora de modo
direto, comprometendo sua identidade, dignidade e relações afetivas e sociais, ocasionando graves danos à saúde física e
mental*, que podem evoluir para a incapacidade laborativa,
desemprego ou mesmo a morte, constituindo um risco invisível, porém concreto,
nas relações e condições de trabalho.
A violência moral no
trabalho constitui um fenômeno internacional segundo levantamento recente da
Organização Internacional do Trabalho (OIT) com diversos paises desenvolvidos.
A pesquisa aponta para distúrbios da saúde mental relacionado com as condições
de trabalho em países como Finlândia, Alemanha, Reino Unido, Polônia e Estados
Unidos. “As perspectivas são sombrias para as duas próximas décadas, pois
segundo a OIT e Organização Mundial da
Saúde, estas serão as décadas do ‘mal estar na globalização”, onde
predominará depressões, angustias e outros danos psíquicos, relacionados com as
novas políticas de gestão na organização de trabalho e que estão vinculadas
as políticas neoliberais.
Texto de Pesquisa: Profº- LUÍS TOMÉ
Palmeirais(PI), 20/02/2013